Artigo 310 – O poder da palavra

“Palavra – uma arma não mão de todos”
por Marcelo Veras | 10 de abr de 2017
Artigo 310 – O poder da palavra

Acompanhei de longe as repercussões das palavras do ator global para a figurinista, que o denunciou por assédio sexual e mobilizou milhares (talvez milhões) de mulheres pelo Brasil. Após escrever a carta aberta assumindo o erro, foi colocado na geladeira e perdeu o protagonismo na próxima novela. Um preço bem alto para uma carreira de ator.

O meu amigo de longa data, Max Franco, é um mestre com as palavras. Já publicou 6 livros, sendo dois deles que tratam exatamente do poder dessa arma que todos nós temos na mão (ou na boca, como preferir) e podemos usar em qualquer lugar, com qualquer pessoa e em qualquer momento. Em “Palavras aladas”, mostra como a palavra pode fazer o bem. Já em “Palavras amargas”, o oposto. Ao ver o caso citado e o estrago que produziu na carreira de uma pessoa, com certeza muito competente, não tardou a vir à minha cabeça este poder ambivalente da palavra.

Já citei aqui neste espaço um email que recebi de um ex-aluno, que na época, estava expatriado na Europa e com um cargo fantástico numa multinacional. Na mensagem, ele me agradecia por uma bronca que lhe tinha dado enquanto eu o orientava no trabalho de conclusão de curso em 2003. Passados mais de 10 anos, um ex-aluno me escreve para agradecer por um "corretivo" que eu nem sequer me lembrava de que tinha dado. Neste email, ele me disse que aquelas palavras marcaram a sua vida e o ajudaram na carreira anos depois. E eu? Nem recordava mais do fato, mas fiquei feliz ao saber que tinha impactado positivamente a carreira de alguém.

É impressionante como a palavra é poderosa. Como ela pode marcar alguém, para o bem ou para o mal. Como ela pode motivar, desmotivar, construir ou destruir uma relação, produzir amor ou ódio, afeto ou desafeto, elogiar ou ofender. É tão fácil. Basta falar e pronto. Está feito. Não custa nada, pelo menos antes de sair da boca. Depois, pode custar muito, muito mesmo. Até porque, uma vez dito, dito. Não dá para voltar atrás. Não dá para enfiar o dedo no ouvido que ouviu e arrancar o que foi dito.

Por mais que tenhamos estudado uma língua, seja ela a nossa nativa ou não, e que saibamos escolher bem as palavras aos nos comunicarmos, nunca saberemos o real efeito que elas podem produzir, até porque, os nossos interlocutores são pessoas diferentes e recebem as palavras de forma diferente. No extremo, uma palavra pode representar um elogio para um e uma ofensa para outro. Uma piada pode ser recebida bem por uma pessoa e ser péssima para outra. Um elogio ou uma crítica podem representar um assédio moral ou sexual por uns e não por outros. Portanto, a palavra é, sem sombra de dúvidas, algo muito poderoso e, ao mesmo tempo, perigoso.

A maioria das carreiras exige uma boa capacidade de comunicação, seja no exercício da própria profissão, como gestão de pessoas, comunicação mercadológica, assim como para se relacionar com clientes e parceiros, como é o caso da medicina ou da engenharia. Ou seja, a palavra é o instrumento de trabalho e a ferramenta que nos possibilita conviver social e profissionalmente.

Casos desta feita nos mostram que, como qualquer arma, elas podem, inclusive, matar. As palavras podem matar gente e carreiras. Podem matar outros ou quem a possui. Basta usá-las de forma irresponsável ou impensada que o estrago já está feito. O que fazer? Mais uma vez bato na tecla da empatia. Só saberemos realmente quais podem ser os impactos da nossa comunicação quando conhecemos minimamente o nosso interlocutor e tentarmos minimamente nos colocar no lugar dele. Só isso já reduz bastante o risco. Nunca vamos agradar a todos, mas quando usamos a palavra como se estivéssemos jogando pedras em um lago, uma hora podemos acertar a cabeça de um bicho qualquer que pode emergir das águas e nos engolir. Em outras palavras, use as palavras com moderação. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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