Artigo 14 – Desenvolvimento de competências não-técnicas

por Marcelo Veras | 03 de abr de 2012

Para aprender a andar de bicicleta, ande de bicicleta”

Começo este artigo lembrando-me da música da Marisa Monte chamada “Diariamente”. Principalmente do trecho que diz: “Para todas as coisas: dicionário. Para que fiquem prontas: paciência. Para dormir a fronha: madrigal. Para brincar na gangorra: dois”. Além de linda na belíssima voz dela, esta música é educativa e didática. Deixa claro que, para que algumas coisas aconteçam, outras são necessárias. Parece uma bobagem, mas faço uso desta simples relação de causa e efeito para colocar aqui o meu ponto de vista sobre o ÚNICO método para se desenvolver as dezesseis competências citadas nos últimos dois artigos. Sete competências comportamentais e nove competências gerenciais.

Para entender este método, precisamos antes discutir um ponto importante. Pense comigo. Como se desenvolvem competências técnicas? Vamos a alguns exemplos: Para ser um bom profissional de marketing, tecnicamente falando, o que uma pessoa deve fazer? Para ser um bom médico, o que uma pessoa deve fazer? Para ser um excelente advogado, o que uma pessoa deve fazer? A resposta é óbvia. Estudar, estudar e estudar. Estar sempre atualizado com as novidades da sua área. Certo? Assim é a vida. Conhecimento técnico se adquire estudando. Alunos dedicados, que estudam, lêem muito, pesquisam muito, terão mais conhecimentos técnicos do que alunos que estudam pouco, que colam em provas, que copiam trabalhos etc.

As escolas brasileiras, em todos os níveis, priorizam sempre o desenvolvimento de competências técnicas. Aula, aula, aula e prova. Aula, aula, aula e prova. A maioria é assim. E não há nada de errado nisso (até você chegar no mercado de trabalho e descobrir que algo mais será cobrado de você). Tem escola que exige mais. Tem escola que exige menos. Mas, no fim, todas tentam desenvolver capacidades técnicas. O próprio governo, através do seu órgão máximo, o MEC (Ministério da Educação), cobra das escolas e dos alunos em seus exames nacionais de cursos, prioritariamente conhecimentos técnicos.

Bom, até aí tudo bem. O ponto é que, se você leu os meus últimos artigos e se convenceu de que um profissional de sucesso precisa mais do que simplesmente competências técnicas, deve estar se perguntando. – Como faço para desenvolver aquelas competências comportamentais e gerenciais que você citou? Na pesquisa que fizemos na ESAMC, com líderes empresariais, descobrimos algo que, na perspectiva educacional, não traz grandes novidades. Mas na perspectiva pessoal de quem quer trilhar uma carreira de sucesso, muda muita coisa. A resposta para a pergunta acima é: Vivência. Para se desenvolver as atitudes corretas (Competências Comportamentais) e os elevados padrões de entrega de resultados (Competências Gerenciais), é preciso vivenciar. Daí a frase de abertura deste artigo: “Para aprender a andar de bicicleta, ande de bicicleta”. Você sabe andar de bicicleta? Provavelmente sim. Então aí vai uma pergunta: - Como você aprendeu? Lendo livros? Assistindo palestras? Ouvindo alguém falar sobre o que fazer? Não. Todos aprendem a andar de bicicleta andando de bicicleta. Caindo. Levantando. Caindo de novo. Vendo o pedal soltar-se, dar aquela volta maldita e parar bem no meio da canela, deixando uma cicatriz para o resto da vida. Pois é, infelizmente (ou felizmente), tem coisa na vida que só se aprende fazendo.

Pense nas sete competências comportamentais: Empreendedorismo, Ética, Comprometimento, Equilíbrio Emocional, Relacionamento Interpessoal, Consciência da Diversidade Cultural e Flexibilidade. Como já disse antes, estas são as atitudes que diferenciam os vencedores dos perdedores. Você imagina alguém desenvolvendo estas atitudes através de leituras, palestras, provas etc? Não. Impossível. Ninguém vai ser ético porque leu 50 livros sobre ética. Ninguém vai ser empreendedor porque assistiu 500 horas de aulas sobre empreendedorismo. Faz sentido? Parece-me que sim. Pense no assunto.

Esta forma de enxergar o desenvolvimento destas competências nos faz pensar que há algo de muito errado na educação brasileira. E há mesmo. Se pensarmos que praticamente passamos a vida escolar inteira focados no desenvolvimento de conhecimentos e que pouquíssimas escolas possuem em seus modelos pedagógicos algum projeto estruturado para se desenvolver atitudes vencedoras, explica-se em parte, a nossa letargia como país em algumas áreas. Além disso, vejo inúmeros jovens preocupados única e exclusivamente em colocarem linhas de cursos em seus currículos, sendo que, está mais do provado que algumas atitudes podem levá-los mais longe na carreira do que toneladas de diplomas e cursos realizados.

Bom, se consegui convencê-lo(a) de que o caminho para o desenvolvimento das competências comportamentais e gerencias é a vivência, nós podemos iniciar, a partir do próximo artigo, o aprofundamento em cada uma das dezesseis competências que vão transformá-lo(a) em um “objeto de desejo” do mercado de trabalho. Por hora, pense um pouco sobre como você está priorizando os seus investimentos no seu futuro. Se você está concentrando 100% dos seus recursos (tempo, dinheiro e energia) em educação formal e em escolas que só focam o desenvolvimento de competências técnicas, está na hora de se questionar um pouco.

por Marcelo Veras
compartilhar