Artigo 155 – A cobra e o vagalume

por Marcelo Veras | 24 de mar de 2014

 “Não queira na sua equipe cobras que gostam de comer vagalumes”

 Era uma vez uma cobra e um vagalume. Certo dia, este vagalume percebeu que a cobra olhou para ele diferente. Quando menos esperou, a cobra estava “correndo” em sua direção. Na dúvida, o vagalume fugiu. Mas a cobra continuou atrás dele impiedosamente. Depois de tentar escapar por diversos caminhos e sem sucesso, tamanha a ira da cobra em lhe alcançar, o vagalume cansou e ficou acuado em um canto. A cobra, já com a boca aberta e o veneno pingando, estava pronta para dar cabo à vida do pobre vagalume, quando este falou: - Dona cobra, antes de me matar, posso lhe fazer três perguntas? – Não vejo razão, mas pode sim, respondeu a cobra. – Muito obrigado. A primeira pergunta é: Eu faço parte da sua cadeia alimentar? – Não, respondeu a cobra. – Eu fiz algo de ruim para você ou um dos seus? – Não, respondeu novamente a cobra. – Então por que você quer me matar? Após um olhar pensativo, a cobra respondeu: - Porque eu odeio o seu brilho.

 Quando ouvi essa história, passou um filme na minha cabeça. Nos meus quase 20 anos de carreira, sem contar o tempo de faculdade, quando também trabalhei, conheci muitas cobras e muitos vagalumes. Perdi a conta. Vi muitas pessoas sendo detonadas ou boicotadas por outras só porque eram competentes e faziam diferente no seu trabalho. É incrível como tem gente nas empresas que, por não terem competência para produzirem grandes feitos, ficam à caça dos bons, com um veneno na boca e prontos para apagarem as luzes daqueles que estão focados no seu trabalho e entregando bons resultados. Você já viu este filme? Quantas cobras que gostam de comer vagalumes existem na sua empresa ou na sua área?

 Quando me formei e comecei a minha trajetória profissional, confesso que tinha uma visão muito romântica das relações pessoais nas organizações. Achava que todos em uma empresa estavam ali para fazerem a empresa crescer. Afinal, todos são pagos para isso, correto? Em teoria sim, mas na prática, logo vi que a coisa não era tão linear. Muita gente está ali muito mais para pensar em si do que na empresa ou na equipe. Muita gente é capaz de ferrar os resultados da empresa para se dar bem. Muitos são capazes de pisar na cabeça de quem tiver que pisar para crescer na hierarquia. E este tipo de gente, quando encontra um vagalume brilhando, se transforma na cobra mais peçonhenta e vai atrás da estrela para apagá-la, como na história acima. E quem perde? A resposta é simples. 

 Este é um fato e ponto. Existem pessoas que não conseguem conviver com gente competente e que “brilha”. A questão é: O que fazer? A resposta depende do perfil de quem vai responder e da sua posição na empresa. Falo do perfil porque um monte de líderes de equipes são cobras que gostam de vagalume também. Aliás, tem líder que adora parir e criar novas cobrinhas, tal qual o pai (ou a mãe). Nestes casos, nem manicômio resolve. E se o “dono” da empresa não perceber e agir, daqui a pouco tem uma população desses bichos destruindo o resultado da empresa. Mas se este não for o caso e os líderes da empresa não queiram pactuar com este genocídio de vagalumes, a única coisa a fazer é demitir todas as cobras. Não há outra saída. Pessoas invejosas só servem para uma coisa: destruir. 

 Na minha empresa, eu e meu sócio temos um pacto. Não queremos ouvir fofocas e não alimentamos intriguinhas. Todos os que trabalham com a gente sabem que queremos foco no trabalho. Premiamos a meritocracia e não queremos ninguém focado em outra coisa que não seja o trabalho e os nossos objetivos. Em empresas maiores, isso é mais difícil, mas esta cultura é possível de ser construída em qualquer empresa, desde que quem esteja no comando queira. 

 Infelizmente ouço casos dessa natureza com uma frequência enorme. E sempre que tenho a oportunidade de conhecer alguém brilhante e com muito potencial, aviso: - Cuidado com cobras que gostam de comer vagalumes! Afaste-se delas!  Até o próximo.

por Marcelo Veras
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