Artigo 156 – Agradecer

por Marcelo Veras | 31 de mar de 2014

 “Um gesto simples, educado e inteligente”

 Há quatro meses uma ex-aluna me ligou perguntando se eu poderia escrever uma carta de recomendação para ela concorrer a uma vaga em uma universidade nos EUA. Logo me prontifiquei e escrevi a carta. Assinei, deixei no meu escritório e ela veio buscar. Não nos encontramos mais. Pra falar a verdade, nem me lembrava mais disso, tamanha a correria em que me encontro nos últimos meses. Mas esta semana recebi uma ligação dela. As palavras foram simplesmente estas: “Oi, tudo bem? Liguei para te contar que fui aceita na faculdade nos EUA, que viajo em dois meses para começar o curso e para te agradecer imensamente pela carta de recomendação que você fez. Com certeza ela me ajudou a conquistar a vaga”. Respondi que não precisava agradecer, dei os parabéns, desejei boa sorte e pronto. A ligação durou menos de 3 minutos. 

 Logo após desligar, parei um pouco e pensei em como algo tão simples de ser feito e tão gentil é negligenciado por tantas pessoas. Fiquei neste momento tentando lembrar e fiz uma lista enorme de pessoas que, nos últimos seis meses, poderiam (ou deveriam?) ter me ligado ou enviado um email simplesmente para dizer obrigado. Não que eu tenha feito inúmeras cartas de recomendação, mas falo de coisas simples como repassar um contato, apresentar uma pessoa, indicar para uma vaga etc. 

 Não sou especialista em comportamento humano, mas vejo que a gratidão foi bem menos democratizada na humanidade do que a capacidade de pedir. Há pessoas que pedem com uma competência enorme e agradecem (quando agradecem) com um amadorismo de jogo de várzea. Parece que quem ajudou não fez mais do que uma obrigação, quando na verdade dedicou uma parte do seu tempo para fazer algo que não tinha a menor obrigação de fazer. É como se após receber o favor, o favorecido sofresse uma lobotomia e esquecesse que foi ajudado. Louco, né? Já ouvi algumas teses que tentam explicar este fenômeno, mas para mim só existe uma válida: falta de educação.

 Pois é, hoje dediquei um tempo a pensar nisso. Confesso que fiquei feliz com a ligação de 3 minutos da minha ex-aluna, que simplesmente serviu para me agradecer por algo que, embora simples, fiz e a ajudei de alguma forma. Senti-me bem, valorizado, feliz. Creio que você também se sentiria. É bom ter um esforço reconhecido, mesmo que apenas com um “obrigado”. 

 Vou tentar ficar mais atento a este ponto. Será que estou me lembrando de agradecer àqueles que me ajudam em coisas simples do meu dia a dia? Será que não estou sendo “profissional” ao pedir e “amador” ao agradecer? Quantos “Muito obrigado” deixei passar em branco recentemente?

 E você? Pare agora e tente se lembrar dos últimos favores ou ajudas que pediu? Faça uma lista, mesmo que mentalmente. Agora me diga. Você agradeceu? Se sim, parabéns e nunca perca este hábito. Se não, faça o quanto antes, mesmo que tardiamente. E daqui pra frente, não cometa mais este erro. Além de deselegante, isso cria uma imagem de pessoa que só sabe pedir. E isso não é bom, nem para a imagem pessoal, nem muito menos para a profissional. Com o tempo, esta imagem de pessoa que só sabe pedir fecha portas e afasta bons contatos e potenciais amigos. Ou seja, um erro simples de ser corrigido, mas que pode causar impactos bem grandes na carreira e na vida.

 É isso, vamos todos ficar mais atentos e usar a palavra “Obrigado” sem economias. Pode ter certeza que as pessoas que receberem a sua gratidão vão ficar felizes e predispostas a lhe ajudar de novo no futuro. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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