Artigo 167 – Vitórias que na verdade são derrotas

por Marcelo Veras | 16 de jun de 2014

 “Pense duas vezes antes de entrar em algumas batalhas”

 Em 279 a.c. um Rei grego chamado Pirro entrou para a história. Ele e seu exército derrotaram os Romanos durante uma batalha conhecida como “Batalha de Ásculo”, em defesa de territórios que estes queriam dominar. Segundo relatos, esta batalha foi dura e acabou com uma vitória muito difícil por parte do exército de Pirro. Os Romanos perderam 6.000 homens e Pirro 3.500, incluindo muitos dos seus oficiais.  Ele venceu, mas perdeu grande parte da sua tropa, dos seus líderes e amigos. Sobraram tão poucos, mas tão poucos, que não havia sequer material humano para repor as perdas para as batalhas seguintes. O custo desta vitória foi tão alto que quase dizimou o seu exército. Do outro lado, os Romanos, mesmo derrotados, tinham homens de sobra para recompor suas tropas e se prepararem para a próxima batalha. No meio deste contexto, Pirro cunhou uma frase que entrou para a história. Ao ser parabenizado pela vitória por um de seus admiradores, ele disse: “Mais uma vitória como esta e eu estou perdido”. 

 Esta frase cruzou séculos e até hoje é usada como reflexão sobre o real significado de vitória e derrota. Pirro ganhou, mas perdeu. Ganhou no curto prazo, mas perdeu no longo. Matou muitos, mas perdeu muitos. Ou seja, há vitórias que não valem a pena. Há batalhas que não merecem ser travadas, pois mesmo que vencidas, não trarão grandes benefícios no futuro e farão um estrago no presente.

 A nossa vida, tanto pessoal como profissional, é um festival de batalhas. Na guerra rumo ao sucesso profissional, temos que enfrentar diversos “inimigos”. Alguns claros e visíveis e outros nem tanto. Mas o fato é que também precisamos decidir, quase que diariamente, quais brigas valem a pena e quais não valem. 

 Quando comecei a minha carreira, não diferente dos meus amigos contemporâneos, eu queria mudar o mundo (e as pessoas). Na minha primeira empresa entrei em uma guerra com um colega que estava tomando decisões erradas e que impactavam a minha equipe e os meus resultados. Briguei muito, discuti muito. No fim, mostrei que estava certo e acabei “vencendo”. Hoje, anos depois, olhando para o saldo dessa história, não sei se valeu a pena. Com o tempo, fui aprendendo que algumas guerras valem a pena e outras não. Por exemplo, querer mudar a cultura de uma empresa que tem anos (ou décadas) de mercado com determinadas práticas é querer mover uma montanha com um dedo. Não rola. Esqueça, a não ser que você esteja na posição de número 1 e que receba esta missão. Caso contrário, esqueça. Sempre digo aos meus alunos que se os seus valores estiverem em conflito com os da empresa ou com os do seu líder, pule fora o quanto antes. Não entre nessa briga, pois ela já está ganha, infelizmente pelo lado oposto. 

 Assim como este, existem vários exemplos de batalhas que temos que travar ao longo da nossa vida profissional. Admiro pessoas ousadas e que entram em todas as guerras que aparecem pelo caminho, mas confesso que hoje penso que algumas devam ser deixadas de lado. Não por fraqueza ou comodismo, mas porque realmente não trarão benefícios que compensem o esforço e o desgaste. Aliás, acho muito mais inteligente quando um profissional abre mão de algo hoje porque enxerga que terá muito mais no futuro. Algumas pessoas não merecem mais de você do que a indiferença. 

 Pense nisso ao longo desta semana. Será que você não está em algumas batalhas como a de Pirro? Para descobrir, apenas pare um pouco, deixe a emoção de lado e se pergunte: “O que realmente eu vou ganhar com isso, mesmo se vencer?”. Se a resposta for aguada ou se você chegar à conclusão de que está nessa por rancor, ódio ou ganância, só lhe digo uma coisa: “Pule fora. E já”. Pegue a energia que está colocando nisso e direcione para outras batalhas mais nobres e que vão lhe gerar mais resultados no médio e no longo prazo. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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