Artigo 193 – Sexo no escritório

por Marcelo Veras | 15 de dez de 2014

 “Quase sempre alguém sai com a imagem destruída” 

 Vinho tinto não combina com churrasco. Peixe não combina com ketchup e pizza não combina com feijão. Por quê? Simplesmente porque não há harmonização ou um acaba roubando o sabor do outro. Assim é a vida. Algumas coisas podem conviver e outras não. Para isso, existe a palavra disciplina, e outra melhor ainda: renúncia. A capacidade de fazer uma escolha e, por consequência, abrir mão de coisas. As pessoas que não sabem fazer renúncias, ou que se desconcentram e acabam misturando coisas que não deveriam se misturar, geralmente pagam um preço bem alto.

 Recentemente uma ex-aluna me chamou para conversar. No nosso papo, confessou-me, com lágrimas nos olhos, que teve um caso com o chefe (casado, diga-se de passagem) e que agora estava com um grande problema nas mãos. Contou-me a história complicada com mais detalhes e me pediu aconselhamento. A relação começou como começam essas coisas: através de atração física, indiretas, elogios, almoços frequentes até o esperado patamar: a cama. Até aí, tudo “bem”(aspas duplas na palavra bem). O único detalhe que transforma esta história em algo bem mais difícil de se resolver é que, não se sabe como, várias pessoas da empresa ficaram sabendo. Várias mesmo. Pares e outros superiores dela. Ah, um detalhe, ela está em fase inicial da carreira e sempre fora vista com bom potencial de crescimento na corporação. Bom, A história correu de tal maneira que ela flagra no olhar das pessoas o julgamento que fazem dela e, pior: vários outros adjetivos que aqui não poderiam ser citados. 

 O fato ocorreu uns seis meses antes da nossa conversa e isso se transformou em um pesadelo para ela. Segundo relatou, de lá pra cá, ela sente que a coisa mudou. As pessoas mudaram com ela. Vários projetos nos quais poderia ter sido envolvida passaram do seu lado sem dar um alô e ela percebe que os elogios profissionais (merecidos, tanto antes do fato como agora) minguaram. Em relação à sua dedicação e ao seu comprometimento, nada mudou. Ela segue com a mesma pegada forte e com seu talento sendo aplicado na empresa. Mas lhe parece que ganhou uma nuvem cinza que sempre vai à sua frente.  A sua pergunta para mim foi clara e direta, como sempre gosto: - A minha carreira nesta empresa acabou? A minha resposta não poderia fugir ao pragmatismo da pergunta (nem ao meu!): - Sim, acabou. Deixo claro que a minha resposta seria a mesma se fosse um homem.

 Eu já perdi as contas, ao longo dos meus 25 anos de estrada profissional, de quantas histórias como esta acabaram mal, ou para os dois envolvidos ou para um deles (normalmente a mulher, pois o machismo ainda impera, infelizmente). Tenho escrito muito sobre os cuidados que devemos ter com a nossa imagem profissional. Das inexoráveis festas de final de ano, que aliás estão chegando, aos posts em redes sociais, passando por fofocas ou compartilhamento de informação de fonte duvidosa, e por aí vai. A quantidade de coisas que podem manchar a nossa imagem profissional é muito grande. Tenho sempre dito que as pessoas que querem crescer e que são competentes e ambiciosas, devem redobrar a atenção, pois se estão na vitrine serão mais ainda cobradas por posturas corretas e adequadas aos ambientes profissionais. Juro que não entendo como tanta gente talentosa consegue se atolar por causa de bobagens ou aventuras tão efêmeras.

 Não sou nada, absolutamente nada, contra uma pessoa se apaixonar por outra no ambiente profissional. Isso pode acontecer e, de fato, acontece todos os dias. Se este fosse o caso, e ambos oficializassem uma relação e ponto, tudo bem? Mas aventuras sexuais definitivamente não combinam com ambiente de trabalho, muito menos com superiores diretos (e casados). Não dá. Juro que não vi até hoje um caso como este ser esquecido e a “vitima”, seja lá quem for, recuperar o seu status anterior. 

 O meu conselho para ela? Trabalhe com a sua rede de contatos e busque oportunidade em outra empresa, siga a vida e lá procure acertar bastante e cometer outros erros, mas este nunca mais. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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