Artigo 21 – Execução

por Marcelo Veras | 05 de abr de 2012

O mundo é dos que fazem. Não dos que falam”.

Você já deve ter ouvido muitas vezes a frase: - Fulano fala muito e faz pouco. Entre esta e outras variações, o resumo é um só: Entre o discurso e a prática há um abismo, que engole uma boa parte das pessoas que conheço e conheci. Na minha trajetória profissional e nas sete empresas em que já passei, sendo a ESAMC a mais longa de todas, conheci muita gente. Muitos colegas de trabalho, pares, superiores, subordinados, clientes, fornecedores, parceiros de negócio, entre outros. Muitos alunos e ex-alunos. Alguns muito ambiciosos. Outros nem tanto. Alguns bem intencionados. Outros nem tanto. Gente esforçada. Gente acomodada. Já vi de tudo, ou quase tudo. E se tem uma coisa que aprendi foi que não dá para acreditar cegamente no que uma pessoa fala. O dom da oratória foi democratizado de forma sem controle. Não sei quem fez isso, mas deve ter se arrependido amargamente. Falar bem e de forma convincente acabou virando uma competência banalizada. Quase todo mundo tem. Uns mais, outros menos. Mas, em geral, todo mundo sabe se vender e dizer que faz e acontece. Em entrevistas de emprego, então, nem se fala. Parece até que todo mundo que vai para uma entrevista fez um curso de MBA em “Como vender gato por lebre”.

As gavetas das empresas estão cheias de bons projetos que não saíram do papel. Projetos que poderiam gerar novos negócios, mais lucro e mais riqueza, mas que foram esquecidos e não implantados. As agendas das pessoas estão cheias de planos e datas para novos projetos que também não acontecem nunca. Quem não começou um ano novo cheio de novos planos, como perder peso, começar um curso, estudar uma nova língua, visitar mais os amigos, viajar mais? E, no final, o ano acaba e nada (ou pouco) acontece. No fundo, todo mundo tem um pouco daquilo que mais condenamos em grande parte dos políticos – a demagogia. A gente adora dizer que faz ou que vai fazer. Mas os que realmente “matam a cobra, mostram o pau e a cobra”, são poucos.

Em um evento sobre carreira e competências que organizei na ESAMC há uns sete anos, uma Diretora de Recursos Humanos de uma importante empresa disse em um dos seus depoimentos: - Queremos na nossa empresa profissionais com menos iniciativa e com mais “acabativa”! Nem sei se esta frase é dela, mas diz tudo. E toca no ponto que consolida a competência em questão nos últimos quatro artigos (17, 18, 19 e 20) – Empreendedorismo. A capacidade de execução é o elo que falta para que a competência Empreendedorismo possa se transformar em algo real e transformador. Sem isso, tudo fica no campo das ideias e dos planos. Sem resultado. O resultado vem da execução. Sem capacidade de execução, tudo vira pó. “O mundo é dos quem fazem. Não dos que falam”.

Tenho pensado muito sobre o que uma pessoa deve fazer para desenvolver esta capacidade de execução. Já que todos nós temos um pouco do “deixa pra depois”, o que motivaria uma pessoa a mudar este padrão de comportamento e ser altamente disciplinada na execução daquilo que prometer ou planejar, sempre no prazo previsto? Você pode até estar se perguntando agora: - É mesmo, porque tenho uma lista de coisas que eu já deveria ter feito e ainda não fiz? Pare um pouco e pense na lista de coisas que você está empurrando com a barriga há dias, semanas ou meses. Coisas simples, que já deveriam ter sido feitas, mas que, por algum motivo, você não fez.

Eu, por muito tempo, acreditei que a melhor motivação para qualquer coisa na vida vinha de estímulos e benefícios positivos. Mas ao longo do tempo vi muita promessa de reconhecimento ou recompensa dar em nada e não ter o efeito motivador que se pretendia. Acho quase inexplicável o fato de alguém saber, conscientemente, que uma atividade esportiva vai mudar a sua vida para melhor, aumentando a disposição, criatividade e bem estar, e simplesmente não ter a coragem (ou competência?) para iniciar e seguir adiante. Acho igualmente inexplicável algumas empresas oferecerem planos de incentivos financeiros ousados para quem atingir resultados acima do orçamento, e simplesmente existirem pessoas que não movam um dedo a mais para conseguirem ganhar este prêmio. Só posso concluir uma coisa: Eu acredito demais nas intenções. Devo mudar isso. Já recebi até uma crítica recente de que “Eu acredito demais nas pessoas”. É uma pena não poder acreditar nas pessoas.

Recentemente, numa das minhas longas conversas com o meu amigo Max Franco, ele soltou uma frase que é, ao mesmo tempo, engraçada e triste. “O que nos torna seres humanos melhores são as multas”. Nesta ocasião ele defendia que são as leis e as multas que fazem com que a gente ande na linha, siga regras e cumpra com o que promete. Ninguém (ou poucos) usaria cinto de segurança se não houvesse multa. Ninguém (ou poucos) dirige a 60 Km/h em um via a não ser onde está o maldito radar. Eu brinquei durante a conversa que, nos EUA, as placas de proibido estacionar, em alguns estados, tem o valor da multa explícito na mesma. Ou seja, o sujeito sabe que estacionar ali vai custar U$ 500,00. E eles respeitam. Porque lá nós sabemos que até ator de Hollywood vai pra cadeia se fizer bobagem.

É, parece, infelizmente, que o meu amigo Max está certo. Precisamos mesmo de multas. Mas eu ainda me recuso a jogar a toalha e ainda quero acreditar que a capacidade de execução pode ser desenvolvida por aqueles que acreditem nos benefícios dela. Não há nenhuma pessoa de sucesso no mundo que não atribua grande parte do seu sucesso à capacidade e coragem de fazer a coisa acontecer. À capacidade de estabelecer objetivos e trabalhar duro e com disciplina para realizar o que planejou e decidiu fazer.

Sei que uma boa parte deste atributo da competência “Empreendedorismo” depende de uma boa gestão do tempo, de uma disciplina e respeito enorme com o que se colocar na agenda e, finalmente, de uma crença quase radical de que o sucesso é mais fruto de transpiração do que de inspiração. Portanto, não quero aqui deixar dicas sobre como controlar melhor a sua agenda e as suas tarefas e executar aquilo que você se comprometer com os outros e com você mesmo (a). Para isso, existem “n” ferramentas de gestão do tempo. O ponto aqui é outro, anterior e mais estrutural. A questão é: - Você acredita que a capacidade de execução é a coisa mais importante que um profissional pode ter como ativo na sua carreira?  Se sim, decida se quer se dar prêmio ou punição, quando realizar ou não o seu planejamento (semanal, mensal). Se você não acredita na força da execução, nada do que eu disser aqui deve fazer sentido.

Só quero deixar aqui, “registrado em cartório”, a minha sugestão para você que acredita na força da execução. Tenha uma agenda. De papel, no computador, no telefone ou de qualquer outro tipo. Coloque lá o que deve fazer em todos os seus projetos, pessoais e profissionais, com data para começar e terminar. Acompanhe dia a dia as tarefas planejadas. Cumpra os prazos que estão lá. E, por fim, escolha se quer se punir ou premiar dependendo do resultado da sua execução. Lute com todas as suas forças para cumprir o que promete, na data e horário combinados. Faça isso e você verá que as pessoas a sua volta irão colocar um rótulo em você que tem um valor incalculável: - Ele (a) fala e FAZ. Este rótulo é o maior fator que já vi alavancar carreiras até hoje.

por Marcelo Veras
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