Artigo 216 – Pausas necessárias

por Marcelo Veras | 01 de jun de 2015

 Dondo vim, on co tô, pon co vô”

 Quem nasceu ou foi criado em Minas Gerais já ouviu esta pérola: “Dondo vim, on co tô, pon co vô” . Se você não entendeu, deixe-me traduzir para o bom português: “De onde eu vim, onde estou, para onde vou”. Entendeu? Para um bom mineiro, esta frase é um convite para uma boa reflexão. Se tiver um doce de leite do lado ou um pão de queijo, fica melhor ainda, uai.

 Esta semana dei uma parada. Uma semaninha de férias, só para recarregar as baterias. 2015 está puxado. Um ano “punk”. Muito trabalho, agenda cheia três turnos quase todo dia, desafios enormes e novos projetos. Resultado, nem vi maio chegar ou acabar. Ponteiro no vermelho o tempo todo, uma visitinha de leve ao hospital e o corpo cobrando uma pausa. Como ele deve sempre ser respeitado, cedi às pressões e parei por uma semana. – Vai, corpo, descansa logo porque não tenho muito tempo para esses caprichos! Preciso voltar para a luta. Brincadeira, sei bem que corpo e mente precisam de pausas. Sem elas, a produtividade cai, o cansaço domina e o vigor se esvai. Aliás, sei disso tão bem que há mais de uma década, prefiro parar por uma semana a cada três meses do que ter um mês de férias. Acho que morreria de tédio se tirasse férias por mais de 15 dias.

 Na ferramenta de elaborei há nove anos e uso nas minhas aulas de planejamento de carreira, reservei um capítulo para que o planejamento seja revisto pelo menos uma vez ao ano. Após o planejamento ficar pronto, peço aos alunos que coloquem em suas agendas datas de revisão. Um momento para ler tudo de novo, checar se alguma variável externa se alterou e, principalmente, checar se você continua com os mesmos objetivos e as mesmas convicções. Alguns me perguntam qual a utilidade dessa revisão, já que o plano havia sido feito com tanta qualidade e profundidade. A minha resposta é sempre a mesma: - De vez em quando precisamos ver se algo mudou, fora ou dentro de nós mesmos. Neste momento, eles me olham com cara de “ué”, mas sei que um dia vão entender o que digo.

 O mundo muda. Disso todos sabem. O que poucos sabem ou percebem com clareza é que nós também mudamos, e não é pouco. Pare um pouco e pense nos seus últimos 10, 20 ou 30 anos. O que você queria para a sua vida há 10 anos é exatamente o que quer hoje? E há 20 anos? Esta é uma reflexão interessante de se fazer. O tempo passa, as experiências se somam, as conquistas e as decepções vão sendo acumuladas e moldando, a cada dia, os nossos novos desejos, sonhos e objetivos. Algo que tinha um valor enorme no passado já não nos empolga tanto. Algo que nem sabíamos que existia nos é apresentado e nos apaixonamos. O valor de coisas como dinheiro, poder, status, entre outros, vai se transformando e mudando de escala. E a consciência disso só aparece quando paramos um pouco para fazer alguns balanços da vida.

 As férias são (às vezes) bons momentos para se fazer estes balanços. Mas independente delas, devemos nos programar para ter um ou dois momentos desse por ano para, simplesmente, parar. Fazer uma pausa, pensar na vida, fazer balanços, olhar para trás, para o que foi conquistado; e para frente, pensando em quais serão as novas bases para o nosso futuro. Quem tem um planejamento de vida, finanças pessoais de carreira, este é o momento de revisar objetivos, projetos e como vai usar o seu tempo, energia e dinheiro daqui pra frente.

 Fazer isso é como renovar os votos em um casamento. É manter-se com as rédeas na mão e não deixar que outras coisas nos comandem ou comandem o nosso destino. É ter clareza de que estarei lutando com convicção pelo que acredito. Isso sim é liberdade. Aqueles que acham que liberdade é fazer o que quer na hora que quer, estão enganados. Liberdade é saber exatamente aonde se quer chegar e ter convicção disso.

 Adoro pausas, curtas, é lógico. Elas são boas, não só para recarregar as forças, mas para renovar (ou revisar) convicções. Você já fez a sua este ano? Se não fez, o que está esperando? Até o próximo!

por Marcelo Veras
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