Artigo 218 – Tempo – o melhor juiz

por Marcelo Veras | 15 de jun de 2015

Só forme um juízo sobre alguém depois de comer junto uma saca de sal”

 Trabalhei com um chefe que tinha uma característica que sempre me incomodava. Quando ele conhecia uma pessoa no ambiente de trabalho e gostava dela, queria imediatamente contratá-la ou promovê-la. Tudo muito rápido. No início, passava o dia elogiando publicamente esta pessoa. Para mim, sempre usava frases como esta: “Nossa, você viu? Um avião! Um show de competência!”. Depois de  um tempo, em função de várias situações, acontecia uma coisa inusitada, parecia que o amor ia diminuindo, diminuindo, e o avião ia, pouco a pouco, virando uma carroça sucateada. Os elogios minguavam e as críticas (também públicas) iam tomando o lugar. Quando o sujeito - antes supersônico - por fim,  saía da empresa, independente de ter pedido demissão ou de ter sido demitido, aí o bicho pegava. Ele, também publicamente, fazia questão de colocar a imagem desta pessoa na altura de uma formiga.

 Depois de vários anos com a mesma postura, os comentários eram sempre os mesmos. “Começou a fase do amor. Até quando vai durar?”. Todos sabiam que essa postura era recorrente e isso até passava uma certa insegurança para a equipe, porque todos sabiam que essa “bipolaridade” poderia bater à porta de qualquer um. Ninguém queria entrar no rol dos "amados", porque um dia...

 A minha mãe sempre me disse que para se confiar em alguém é preciso antes comer duas sacas de sal juntos. A metáfora é perfeita e sábia. Sal se come aos poucos. Portanto para se comer duas sacas é preciso tempo, muito tempo. E por falar em tempo, vamos combinar que ele é, sempre foi e sempre será o melhor juiz. Não há nada que consiga fugir do julgamento do tempo. Nada.

 Mesmo com o conselho da minha mãe, coleciono alguns erros, na minha carreira e na minha vida pessoal. Confiei quilômetros em algumas pessoas que não mereciam centímetros. Já engoli (e digeri) a minha língua várias vezes, ao julgar muito prematuramente uma pessoa e depois perceber que ela não tinha nada a ver com o que achei no início. Isso para o bem ou para o mal. Já vi anjos em demônios, e demônios em anjos. Já comprei gatos por lebres e lebres por gatos. Mas, também lebres por lebres e gatos por gatos. 

 Depois de alguns erros e vários cabelos brancos, acho que aprendi de vez. Hoje, tenho uma regra que sigo à risca. Respeito o sábio conselho da minha mãe e deixo por conta dele – o tempo- me mostrar quem é quem. Não julgo mais ninguém logo de chegada. Por melhores ou piores que sejam as credenciais ou as opiniões dos outros, quero dar ao tempo o poder de me mostrar a verdade. Quando assumo uma equipe nova, como aconteceu há um ano, ouço todas as opiniões sobre as pessoas, mas deixo o tempo, mais uma vez, me apresentar as suas reais competências e posturas.

 Um colega me confessou na semana passada que um conselho que lhe dei há um ano foi bom e veio me agradecer. Na época, lembro-me que ele ia começar um trabalho com uma equipe grande e que, ao final, iria escolher três pessoas para uma promoção e para compor uma nova área que iria ser criada após este projeto. Lembro-me que ele me disse na época que praticamente já sabia quem iria ser escolhido. Falava com tanta convicção que logo me lembrei do meu ex-chefe e do conselho da minha mãe. As minhas palavras na época foram as seguintes: - Calma, trabalhe com as pessoas e dê ao tempo o poder de mostrar quem realmente é cada um. Bingo! O projeto acabou e nenhuma, absolutamente, nenhuma das três pessoas citadas foram as que mostraram as melhores competências para assumir as novas posições. E quem mostrou isso a ele? O tempo. Sempre o tempo.

 Pense nisso. Reflita sobre como você avalia e julga as pessoas que conhece, principalmente em relação ao tempo. Se você é do tipo que em pouco tempo decide sobre quem é do bem, quem é do mal ou quem é competente e quem não é, sugiro que mude essa postura. Ela normalmente leva a muitas decepções. Pessoas que você julgar rapidamente como trigo, poderão se mostrar como joio no futuro. Quem vai separá-los?! Você já sabe, o maior juiz que a vida tem – o tempo. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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