Artigo 22 – Escolhas

por Marcelo Veras | 05 de abr de 2012

“O muro tem dono. E ele cobra um aluguel bem caro

Você tem idéia de quantas escolhas faz por dia? Tente fazer a conta. É quase impossível. Da roupa que coloca de manhã, ao caminho que faz para o trabalho ou escola, da comida que come no almoço ao que responde quanto recebe uma pergunta. Assim é a vida. Se tem uma coisa que fazemos todo santo dia é DECIDIR. Depois, é assumir o ônus ou colher o bônus de cada decisão. Tudo é relação de causa e efeito. Tudo é fruto do que se decide. Mesmo quando uma decisão em um aspecto da vida impacta direta ou indiretamente outro que parece não ter nada a ver. Obra do acaso não existe. Decide-se e pronto. Uma coisa puxa outra. Como diz meu amigo Max, “assim é o mundo dos adultos”.

Fiz esta pausa nas competências e farei sempre que um assunto “extra-campo”, mas relacionado com o tema Carreira, estiver me incomodando no momento. É isso mesmo. Ando incomodado com uma coisa. Ando incomodado com a incapacidade das pessoas de não entenderem coisas simples. De fugirem do óbvio. De mentirem para si mesmas. De quererem “consumir no bar e saírem sem pagar a conta”. Ando incomodado com quem não decide porque acha que é tarde, com quem não decide porque acha que é cedo, com não decide porque tem medo de errar e, pior de tudo, com decide apenas da boca pra fora.

Na carreira e na vida, as encruzilhadas são muitas. Algumas com impactos pequenos e curtos. Outras com impactos profundos e de longo prazo. Ao chegar a uma delas, não dá para voltar. A vida não tem mão dupla. É um caminho apenas. Para frente. Erros ou acertos só podem ser contabilizados e nunca apagados. Relógio não anda pra trás. E quem não encara isso de frente e se recusa a descer do muro, paga o preço mais alto de todos. A conta desse “camarote” é alta. A visão é boa, porque de lá pode-se ver quem errou, quem acertou e fazer julgamentos descomprometidos. – Tá vendo? Fulano decidiu isso e se deu mal. Ainda bem que ainda estou aqui. Pobre ilusão. O muro tem dono. A indecisão também é uma decisão. E a pior de todas.

Sem sombra de dúvidas, o maior fantasma dos que ficam em cima do muro é o medo. Medo de errar. Medo de se arrepender. Medo de perder dinheiro. Medo de se machucar emocionalmente. Enfim, muitos e muitos medos. Plenamente justificáveis e aceitáveis. Porém, todas as mazelas caem sempre em cima da cabeça de quem fica lá, no muro. Sabe por que? Porque o tempo passa. Só por isso. O tempo passa e leva pra sempre oportunidades e ameaças. A perecibilidade do tempo é a conta a ser paga. Poucos enxergam isso.

Quando pedi demissão, depois de 5 anos em uma empresa multinacional global, centenária e com excelentes perspectivas de carreira, para ir trabalhar em um Start Up de uma empresa de Telecom no interior de São Paulo, um mercado maluco, novo no Brasil e que representava outro planeta para mim, muita gente me chamou de louco. Meus pais (embora não dissessem) queriam me internar. – Pra que correr este risco? Confesso que não foi uma decisão fácil. Mas não sei por que, algo no meu íntimo dizia que, independente do tombo que eu eventualmente levasse, eu cairia pra frente. Você pode estar achando este raciocínio maluco (e talvez seja), mas foi isso que me motivou. Ir adiante. Escolher e entrar de cabeça para fazer dar certo. Alguns objetivos maiores estavam por trás, ditando os meus passos.

Conheço pessoas que até decidem coisas rapidamente, mas que pecam na convicção. A palavra decisão é mais ampla e séria do que a palavra escolha. São coisas bem diferentes. Quem escolhe, escolhe. Quem decide, entra de cabeça. Pula na piscina sem ficar botando o pezinho para ver se a água está fria. Esta é a diferença de quem decide e quem simplesmente escolhe. Nada garante o que será o futuro. Nada garante que uma decisão é a melhor. Mas uma decisão convicta e pensada, acompanhada dessa pegada forte para entrar de cabeça e fazê-la acontecer, raramente dá errado. E se der, quem erra, encara sempre como mais uma preparação para o próxima que virá. Do mundo dos negócios ao esporte. Da literatura às artes, esta é a postura dos vencedores. Decidem e pronto. Quando caem, levantam e seguem o rumo, porque o objetivo maior está acima de tudo. Estas pessoas não freqüentam a parte de cima dos muros. Ou estão de um lado ou do outro. Mas sempre acreditando que estão do lado certo.

Se você estiver se perguntando se já errei alguma vez, a resposta é SIM. Se a segunda pergunta for se doeu, a resposta também é SIM. Alguns tombinhos doeram pouco. Outros doeram muito. Alguns custaram pouco. Outros custaram bem caro. Mas o balanço e a minha contabilidade me dão orgulho. Para cada erro, talvez dez acertos. O saldo? Sempre positivo. No final, sempre o “lucro”, na carreira e na vida. Sempre o crescimento.

O ingrediente para se ter esta postura? Objetivos convictos. Claros, mensuráveis, desafiantes, possíveis e coerentes. Saber onde se quer chegar é tudo. Sem isso, tudo vira ameaça. Tudo mete medo. Tudo é obstáculo. Não existe sucesso sem objetivos claros. Não existe caminho duplo. Para cada escolha, uma renúncia. Quando chegar a uma encruzilhada, vire. Se for à direita, siga e não olhe para trás. E vice-versa. Se errar, chore e contabilize. Se acertar, comemore e contabilize. Mas nunca, nunca mesmo, fique parado(a) olhando para os lados ou assistindo tudo de cima do muro.

Pense nisso um pouco. Em que lado do muro você está? Qual é seu nível de convicção sobre o que faz hoje na sua vida profissional ou pessoal? Quais são os seus objetivos? Como você quer a sua vida no futuro? Não sossegue enquanto não tiver isso claro. Este é o primeiro passo para a realização, pessoal e profissional.

E não se esqueça: O muro tem dono. E ele cobra um aluguel bem caro!

por Marcelo Veras
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