Artigo 227 – Síndrome de Gabriela e insubordinação – juntas

por Marcelo Veras | 17 de ago de 2015

 Pior do que uma doença são duas juntas”

 Recentemente escrevi sobre inflexibilidade, citando a música de Dorival Caymmi, eternizada na voz de Gal Costa, com o refrão que homenageia os dinossauros profissionais. “Eu nasci assim, eu cresci assim... vou ser sempre assim”. Creio que a maioria das pessoas sabe que esse mal chamado “inflexibilidade” é a primeira prestação para o mausoléu alojado no cemitério profissional. A doença mortal foi apelidada de “síndrome de Gabriela”. Mas, como se diz por aí “cuidado, porque tudo pode piorar”.

 Quer um ingrediente para deixar esse prato ainda mais bizarro? Ele existe, e se chama insubordinação. Ser insubordinado é não respeitar a hierarquia da empresa onde trabalha. É receber uma diretriz e não cumprir. É se recusar a aceitar o seu chefe direto como tal e fazer o que acha que deve fazer.

 Pois bem, deixe-me contar uma história (real) de como esse prato pode ser indigesto. Uma empresa atua em três segmentos de mercado. Uma área desta empresa presta um determinado serviço para dois desses segmentos. O outro segue a sua vida com esta demanda sendo atendida por uma equipe própria e exclusiva. Isso gera custos maiores e produtividade menor. Em determinado momento, há uma mudança na gestão da empresa e uma nova equipe passa a diagnosticar tudo e buscar oportunidades de melhoria na gestão. Quando essa lupa chega a essa área, Sandra, a pessoa responsável pela prestação de serviço é questionada do motivo pelo qual as coisas funcionam assim (dois segmentos são atendidos e outro não). A resposta número um: “sempre foi assim”. A resposta número dois: “Recuso-me a trabalhar com esse segmento”. Sandra é muito competente tecnicamente e reconhecida por todos como uma das melhores nesse tipo de serviço, mas nunca havia sido questionada nesse ponto tão básico. Por que não unificar o serviço prestado para todos os segmentos da empresa se não há nenhuma justificativa técnica para não fazê-lo? Por causa de gosto pessoal?  Juro, alguém pode me beliscar para ver se estou acordado?

 Passados alguns meses, a nova gestão decide contratar um novo diretor para serviços compartilhados, que inclui a área citada e outras mais. Ou seja, vários departamentos que operam de forma independente passam a fazer parte de uma área única para toda a empresa. Logo de chegada, o novo diretor determina que um projeto detalhado e um cronograma sejam montados para que o serviço do departamento da Sandra seja prestado para os três segmentos e unificado em outro prédio, onde está sendo montada a área de serviços compartilhados da empresa. Por uma questão de mérito e tentando esquecer a frase infeliz da Sandra, que “se recusa a trabalhar com outro pedaço da empresa”, ela é convidada a liderar o projeto. Quatro meses passados, nada acontece. Absolutamente nada. A nossa querida Sandra foi absolutamente coerente (isso tem que ser reconhecido). Disse que não ia fazer e não fez.

  Um belo dia, o novo diretor convoca Sandra para uma reunião, solicitando explicações e o cronograma de implementação do projeto, deixando claro que a decisão está tomada e deve ser implementada. O que Sandra faz? Além de não responder o email e nem confirmar a presença na reunião, escreve para o seu antigo chefe (ainda na empresa) dizendo que está pensando em pedir demissão.

 Bom, creio que não preciso dizer como essa história acabou. Se você está pensando que Sandra estava querendo sair da empresa e cavou a demissão, está enganado. Ela realmente achava que era insubstituível e ficou péssima ao saber que a ameaça de pedir demissão só acelerou a sua saída da empresa. Ou seja, por mais competente que alguém seja tecnicamente, inflexibilidade e insubordinação compõem um prato que nem urubu está disposto a comer. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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