Artigo 233 – O preço do despreparo

por Marcelo Veras | 12 de out de 2015

 Se não estiver preparado, não entre em campo”

 - Chefe, chefe, posso interromper um pouco? – perguntou o macaco-prego.

 - Ser for rápido, bem rápido. – respondeu o Leão leoninamente.

 - Claro, Claro. Lembra-se daquele urubu, que está tentando há meses uma reunião com sr.? Pois é, ele está aqui mais uma vez. Insiste em falar com o patrão. Diz ter um projeto fantástico para o nosso reino.

 - Hummm, será que ele pode voltar outro dia? Tenho muita coisa importante para decidir e o meu tempo livre está mais raro do que político ético no Brasil.

 Cerca de três minutos depois...

 - Chefe, o Urubu disse que se for não atendido agora não volta mais. E disse mais, se o seu projeto não nos interessar, ele vai oferecer para o reino do rinoceronte, nossos maiores rivais. Será que não vale a pena ouvi-lo? Ele fala como se tivesse realmente algo muito importante.

 - Ai, ai. Tá bom. Mande esse fedorento entrar. Mas diga logo que tenho apenas 15 minutos.

 - Ok, faço já.

 Minutos depois...

 - Bom dia, Majestade. Muito obrigado por me receber. – falou o Urubu, branco de tão ansioso.

 - Bom dia, meu caro. Qual ideia você traz para o portador desta coroa?

 - Pois bem, como o monarca sabe, nós, urubus, não caçamos. Apenas nos alimentamos de restos e carcaças. Por isso que precisamos tanto de vocês, os predadores. Pois bem, há tempo venho sobrevoando a nossa região e fiz uma descoberta fantástica. Não muito longe daqui, encontrei um oásis. Lagos, árvores de frutas e muitos, muito animais que podem servir de alimento para o seu reino. O que acha de vocês se mudarem para lá. Que tal?! Vocês ganham, saem desse lugar horrível em que vivem e nós, urubus, ganhamos também. E eu ainda viro líder dos urubus.

 - Onde fica? – interrogou o Leão, com cara de interesse.

 - Fica para o norte.

 - Qual é distância daqui?

 - Hum, não sei bem. Mas não é muito longe.

 - Não sabe? – perguntou o Leão, agora com cara de poucos amigos. - E quais animais existem lá? 

 - Vários, mas não sei bem quais. Do alto, deu para ver algumas capivaras.

 - Capivaras? Odiamos carne de capivara. Você não sabe disso, sua anta voadora? – O que mais você sabe desse lugar? Tem um mapa de como chegar lá?

 - Infelizmente, não. Mas acho que consigo voltar lá.

 - Acha? Você está falando sério ou está tirando onda da minha cara? Como assim "acha"?

 - É, acho. Não anotei bem o caminho. Deveria ter anotado, não é?

 Nesse momento, um berro enorme e um barulho de asas batendo e derrubando coisas foi ouvido na recepção. O macaco-prego, desesperado e sem saber o que estava acontecendo na sala do chefe, entrou sem pedir licença, já perguntando: - Chefe, chefe, o que houve? Cadê o urubu?

 Antes de acabar de fazer a sua pergunta, viu o Leão sentado na sua mesa, palitando os dentes com uma pena negra. Não precisou perguntar mais nada. O pobre urubu tinha já virado o lanchinho da tarde do rei da floresta. O Leão olhou para o macaco-prego, com cara de ódio e disse:

 - Ô, macaco-burro, na próxima vez que você me trouxer um animal desta laia, quem vai virar merenda é você! O tempo hoje é um dos recursos mais escassos que um bicho pode ter. Ainda mais um bicho na minha posição. Esse urubu deveria saber disso e não me vir aqui tão despreparado com estes projetos rasos, inacabados e confusos. Ele disse que tinha descoberto um oásis ao norte daqui, mas não soube dizer mais nada. Agora quem vai ter que achar o lugar é você!

 - Mas, onde é, meu rei?!

 - Ao norte, ao norte. Dá seu jeito e encontre esse lugar até hoje à noite.

 Moral da história: Se não estiver preparado, não entre em campo. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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