Artigo 271 – A difícil arte de contratar

Analisar currículos gera um misto de diversão e raiva”
por Marcelo Veras | 11 de jul de 2016
Artigo 271 – A difícil arte de contratar

Já trabalhei em oito empresas e passei por muitos processos seletivos, entrevistas e dinâmicas de grupo. Há muito tempo também analiso currículos, entrevisto e contrato profissionais. Ou seja, já sentei dos dois lados da mesa e os conheço relativamente bem. Além disso, convivo com vários profissionais e amigos que trabalham com recrutamento. Sempre que os encontro, procuro aprender um pouco mais sobre essa “arte” chamada recrutar. Ouço histórias bizarras sobre entrevistas, textos em currículos, contatos telefônicos, entre outros. Confesso que algumas delas chegam a soar como mentiras, de tão absurdas. Mas nesta última semana, tive a prova concreta de que a vida de um recrutador não é fácil. E pior, há coisas que cheiram a improváveis mas que acontecem mesmo. Vou dar um exemplo: Estamos contratando na nossa empresa. Temos duas vagas abertas para analistas de marketing. Fizemos um breve descritivo da vaga, das responsabilidades e das competências. Criamos um endereço na web para os interessados se inscreverem para o processo. Pedimos que o currículo fosse anexado (arquivo em word, pdf ou qualquer outro) e solicitamos a pretensão salarial. Lembrando mais uma vez: ambas as vagas eram para a área de marketing – Analista de marketing.

Pois bem, postamos as vagas nas nossas redes sociais e, em uma semana, tínhamos 95 currículos cadastrados. Encerramos o processo, desabilitamos as inscrições e fechei uma manhã da minha agenda para analisar currículo a currículo e decidir quem chamar para uma entrevista. Como a nossa estrutura é enxuta, faço questão de selecionar cada um, até porque essas duas pessoas vão cuidar de duas marcas importantíssimas e que estão em fase importante de crescimento.

Pois bem, lá vou eu olhar de perto os currículos. Coloquei uma xícara de café ao lado do computador e comecei a analisar um por um. Qual foi a minha surpresa? Em menos de uma hora e meia, havia concluído o trabalho e selecionado quem chamaria para a entrevista: 9 pessoas. Isso mesmo, dos 95 currículos, apenas 9 me convenceram a conversar pessoalmente. Vamos ao balanço geral: 10 currículos eram muito bons, mas estavam sobrequalificados para a vaga. Ou seja, tratavam-se de profissionais com perfil mais para gerentes do que para analistas. Aliás, alguns deles eu adoraria trazer para a empresa, mas com o salário das vagas abertas, seria um crime e com certeza eles não ficariam muito tempo. Mas vamos à parte “triste” da história. 29 currículos tinham erros de português grosseiros. Alguns com incontáveis erros (crase, pontuação, concordância, assassinatos, etc). Imperdoável para qualquer vaga, ainda mais para quem quer trabalhar em uma escola. Outros 17 currículos estavam sem a pretensão salarial pedida. Se a vaga pede a pretensão, não se deve escrever “a combinar”. Outros 14 currículos me chamaram a atenção (negativa) para um fato – nos últimos 24 meses não havia uma atividade de desenvolvimento. Um curso de 4 horas sequer. Nada, absolutamente nada. Também não dá. No mundo atual, a última coisa que se espera de um profissional (ainda mais do marketing) é esse sinal de acomodação.

Bom, paro por aqui e você já deve ter feito a conta. Além dos casos acima, duas aberrações que me fizeram lavar os olhos para checar se eu realmente estava vendo aquilo. Um currículo de uma moça trazia a sua foto (embora não exista consenso sobre o uso de fotos em currículos, não me incomoda). Mas neste caso, a foto dela (tirada de cima para baixo) mostrava um decote digno de ser usado em um baile de carnaval. Talvez ficasse mais discreto se estivesse de biquíni. Já outro colocou no objetivo profissional o seguinte: “Trabalhar na área jurídica de uma empresa”. Oi?

Agora, vou conhecer os nove e, quem sabe, encontrar o perfil ideal. Mas vamos combinar uma coisa? Não cometa erros dessa natureza no seu currículo. Tenhamos pena dos recrutadores. Eles sofrem mesmo. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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