Artigo 317 – O tempo e as pamonhas

“Ninguém resiste ao julgamento do tempo”
por Marcelo Veras | 29 de maio de 2017
Artigo 317 – O tempo e as pamonhas

Impossível não retomar este tema tão importante num momento como o que estamos vivendo no Brasil e tentar fazer uma ponte com a gestão da nossa carreira. Minha mãe já dizia: “Filho, nunca emita um juízo definitivo sobre alguém antes de comer duas sacas de sal junto com essa pessoa”. Já citei essa metáfora aqui antes e não me canso de repetir. Sal se come aos poucos. Portanto, só conhecemos (realmente) alguém com o tempo, esse juiz implacável que derruba todas as máscaras e coloca todo mundo nu (de espírito, valores e de caráter) diante daqueles que o conhecem. Ninguém resiste ao julgamento do tempo. Ninguém.

O momento atual do Brasil é lastimável, mas essa lavagem que vem sendo promovida nos trará grandes aprendizados e nos levará a outro patamar de país. Ainda vamos sofrer um pouco, mas acredito que sairemos mais fortes. A corrupção não encontrará em breve um terreno tão fértil por aqui.

Voltando a falar do nosso cara, o tempo, ele nos deu uma aula bem legal recentemente. Fez com que muita gente, inclusive eu, mordesse a língua com força. O país se polarizou politicamente e os nervos ficaram à flor da pele. Desde o resultado das últimas eleições presidenciais, passando pelo impeachment e agora com as “bombas atômicas” das últimas semanas. Esse juiz, o tempo, está mostrando que estávamos todos errados. Quem defendeu arduamente o lado “A” ou o lado “B”, como se um fosse santo e ou outro demônio, está passando mertiolate (daqueles antigos, que ardem bastante) na língua. A minha já ardeu também, confesso sem vergonha. Na verdade, todos nós estávamos errados. Nem o lado “A” nem o “B” merecia um milímetro de crédito. Todos, farinha do mesmo saco. Ouvi uma frase recentemente, de um empresário de São Paulo, que chega a ser engraçada, se não fosse trágica: “Não existem coxinhas nem mortadelas. Somos todos pamonhas”. Fomos todos enganados e agora estamos vendo que estamos órfãos de boas lideranças na gestão pública.

Esse recado chega rápido à nossa carreira. Quantas vezes, lhe pergunto, você não confiou em alguém no trabalho e se deu mal? Ou acreditou no caráter de um chefe e se decepcionou? Quantas vezes não contratou alguém esperando ótimos resultados e nada aconteceu? E o contrário? Quantas vezes subestimou a capacidade de alguém e se surpreendeu positivamente? Quantas vezes não achou que uma pessoa não era confiável e ela lhe provou que era mais do que muita gente que você achava o contrário? Pois é, meu caro e minha cara, a vida é assim. Ela nos prega peças e nos mostra verdades às vezes bem diferentes daquelas que acreditamos, para o bem ou para o mal.

O que fazer? Só há duas coisas. Primeiro, quando o juiz chamado tempo nos mostra uma verdade diferente da que achávamos, temos que assumir o erro e reconhecer, seja punindo quem não merece seja valorizando quem não valorizava. Na política, se depender de mim, quero todos nos quais depositei confiança (com os quais quebrei a cara) na cadeia. E vou em busca de novas apostas. Segundo, temos que ficar mais espertos e seguir o conselho da Dona Lúcia (minha mãe) – não emitir juízo definitivo sobre alguém antes de três sacas de sal. Vou ficar mais esperto e mais atento antes formar opiniões definitivas. Embora já ouça e pratique isso há bastante tempo, não é fácil se livrar dos falsos (e rápidos) julgamentos.

Para fechar, só quero deixar claro que não estou defendendo a ideia de que devemos desconfiar de tudo e por muito tempo, somente que devemos ficar mais atentos e nunca nos esquecermos que só existe uma coisa que colocará tudo no seu devido lugar – o tempo. Até o próximo

por Marcelo Veras
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