Artigo 444 – O Coringa e a sua carreira

“Atenção plena ou, em um detalhe, tudo pode mudar”
por Marcelo Veras | 04 de nov de 2019
Artigo 444 – O Coringa e a sua carreira

 

Se você ainda não assistiu ao filme do Coringa, pense duas vezes antes de ir. O filme é pesado, bem pesado. Mas se decidir ir ver, prepare-se para fortes emoções e para alguns dias de reflexão pós-filme. Faz tempo que não vejo uma história tão forte e marcante. Para mim, se o Joaquin Phoenix não ganhar o Oscar com essa atuação, não sei quem mais merece ganhar. O cara simplesmente arrebentou.

(Aviso de spoiler) A história do Coringa é triste. Parece que, ao nascer, alguém falou “Vamos fazer da vida dele um inferno”. Abandonado pelo pai, espancado pelo companheiro da mãe quando criança, com um distúrbio que só lhe causa problemas – a risada patológica, e por aí vai. A lista de mazelas não acaba nunca. Até que, um “belo” dia, ele resolve aceitar uma arma de um colega de trabalho e a desgraça, que parecia que não podia piorar, acontece. Num metrô, após assistir a um assédio a uma moça, começar a rir (em função do nervosismo) e apanhar dos agressores, saca a arma e mata os três. A partir daí, a carreira de horrores começa.

A história em si parece não ter nada a ver conosco ou com a nossa carreira. Mas após o final do filme e nos dias seguintes, me peguei em vários momentos me lembrando dela e refletindo sobre algumas coisas. A primeira delas diz respeito a quantas pessoas no mundo não trilham um caminho semelhante ao do Coringa. Ora por falta de oportunidade, ora por excesso de oportunidade (no caso, para fazer coisas erradas). No fundo, pensei com meus botões, tudo é uma questão de oportunidade. Seja para fazer o bem ou o mal, a oportunidade pode nos pegar. O segundo ponto diz respeito a como um pequeno detalhe pode mudar tudo. E se ele não tivesse aceitado aquela arma? E se a história dele com a moça do apartamento ao lado fosse real? E se ele tivesse apenas ameaçado e não apertado o gatilho naquele metrô? E se? E se? E se?

Se pararmos um pouco e voltarmos no tempo, veremos incontáveis oportunidades que tivemos de fazer ou deixar de fazer coisas. Concorda? Pense um pouco em algumas decisões que tomou na vida e tente imaginar o que teria acontecido se a decisão tivesse sido diferente. Dá até dor de cabeça de pensar em quantas coisas diferentes poderiam ter acontecido, não? No limite, até uma decisão simples poderia ter levado a nossa vida ou a nossa carreira para outro planeta.

Entretanto, este exercício parece ser inútil. Afinal, o que decidir está decidido e me trouxe até aqui, certo? Sim, mas até nisso tem um aprendizado. E o filme do coringa nos dá uma aula. Em pequenos detalhes, podemos nos perder para sempre. Há quem vai dizer que o Coringa é o retrato da maioria das pessoas no mundo, que por falta de oportunidade e de tanto apanharem, viram o que viram. Mas isso também não é uma verdade absoluta. Quantas pessoas também tiveram uma vida muito difícil e não se perderam? Não dá para generalizar.

O recado que ficou para mim e que compartilho aqui é: tudo pode mudar muito rápido, para o bem ou para o mal. Todos nós estamos sujeitos a ter que encarar uma oportunidade de fazer ou deixar de fazer algo. Uma decisão errada, uma frase equivocada, um “sim” ou um “não” podem mudar tudo. Portanto, se a vida é esse festival de portas que se abrem e que podem nos levar para o céu ou para o inferno, só há um jeito de mitigar o risco – ter atenção plena e buscar sempre analisar relações de causa e efeito ante de decidir. No caso do Coringa, talvez tenha sido praticamente impossível fugir da saga, mas no nosso caso, talvez possamos nos concentrar e nos manter relativamente longe dessa fogueira. Até o próximo!

Photo by Hermes Rivera on Unsplash

por Marcelo Veras
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