Artigo 48 – Ingredientes da confiança

por Marcelo Veras | 05 de abr de 2012

"Nunca confie 100% alguém antes de comer três sacas de sal juntos"

Cansei de ouvir esta frase da minha mãe. Três sacas de sal não são pouca coisa. Como sal se come aos poucos, é preciso muito tempo para abocanhar isso tudo, mesmo comendo a dois. Mas esta é a máxima da frase. Só o tempo e muitos quilômetros rodados fazem com que a gente realmente conheça e confie em alguém.

Neste ano eu completo 20 anos de amizade com o meu grande amigo Max. Estamos até ensaiando uma viagem para comemorarmos. Nem sei se consigo descrever esta jornada nem como ele me aguenta por tanto tempo. Foram tantas experiências, tantas horas de conversa, tantas cumplicidades e tanta coisa que fica difícil de descrever. Mas uma coisa é certa: Confio nele (e sei que ele em mim) de forma irrestrita e incondicional. Sei que nunca serei traído por ele. Nunca. E tenho certeza que ele confiaria a vida dos seus filhos a mim.

Relações com esta base são raras, mas existem. Dependem única e exclusivamente da vontade de se ter e de se encontrar a pessoa certa. Quando duas pessoas querem, conseguem. Mas tem que querer mesmo, com letra maiúscula. Tem que estar acima de tudo e das tentações que a vida joga na nossa frente. Descuidar-se de uma relação é fácil. Manter-se focado no sucesso e na perenidade dela, nem tanto. Exige, sobretudo, disciplina e atitudes coerentes e consistentes. Exige um nível de entrega que poucos sabem dar.

Na vida pessoal e profissional, a confiança é a base de tudo. Isso já defendi arduamente no artigo anterior. Mas a questão que fica no ar é: Como desenvolver isso com alguém ou com uma equipe, seja no campo pessoal ou profissional? Se olharmos apenas para a frase da minha mãe, dá um desânimo danado, porque nunca temos 20 anos para conquistar a confiança de uma pessoa ou de uma equipe na empresa. Mas ao analisar a minha história com o meu amigo Max, enxergo alguns catalisadores, capazes de construir este importante alicerce em um curto espaço de tempo ou em certo espaço de tempo razoável para os desafios que a vida nos impõe.

O primeiro deles é o princípio da verdade. É muito, muito importante, para que uma relação de confiança se estabeleça que a verdade seja dita. Por mais que, às vezes, possa ser incômoda ou dolorosa para quem a ouve, precisa ser dita. A dor da verdade passa. Já a da desconfiança, não. No ambiente de trabalho, conseguir esse feito é um grande desafio. Mas saiba que, se você for um líder, a sua sinceridade está sendo medida a cada minuto pela sua equipe e com instrumentos que nem você sonha. Imaginar que está enganando alguém é uma ilusão. As pessoas sabem, sentem. A verdade tem cheiro. A mentira, nem se fala. E tem mais, toda mentira – no fundo - quer ser revelada. Umas esperam mais, outras menos. Mas todas mostram a cara, mas cedo ou mais tarde.

O segundo ponto, e que, para mim, é tão importante quanto o primeiro, é o princípio das atitudes. São as ações, e não as palavras, que edificam a confiança. Com palavras, fazemos declarações de intenção. Nada além disso. Com as ações, demonstramos quem somos e como lidamos com a confiança que depositamem nós. Numarelação afetiva ou profissional, as pessoas são muito mais aquilo que fazem do que o que dizem. Alguns têm o dom da palavra mais do que outros, mas não valem a metade do que falam. Aliás, sempre duvide de quem se vende muito bem.

Ando incomodado com esta questão. Acho que o que o mundo precisa hoje não é de dinheiro, democracia ou conhecimento. A maior escassez que vejo hoje é da confiança. Esta deveria ser a próxima revolução. Faça a sua. Escolha pessoas com quem quer ter esse tipo de relacionamento e se entregue. Sem medo de ser feliz. Vá! Corra que dá tempo! Eu e o Max sabemos disso.

por Marcelo Veras
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