Artigo 77 – Decisões difíceis

por Marcelo Veras | 24 de set de 2012

"No mundo dos adultos, decide-se e pronto” (Max Franco)

Após uma longa série sobre a competência Liderança, fiquei pensando por um tempo sobre qual deveria ser a nova competência a ser discutida aqui. Neste processo, lembrei-me de um fato recorrente e cada vez mais frequente nas queixas que ouço dos meus alunos de MBA, quando estamos discutindo o tema “Carreira e competências”. Confesso que às vezes sinto que a sala de aula se torna quase um consultório psicológico e uma sessão de terapia em grupo. É sério, não estou brincando. Quando provoco os alunos a falarem sobre as suas angústias em seus ambientes de trabalho, com seus pares, chefes etc, a coisa desanda. O sorriso amarelo de quase todos mostra uma insatisfação generalizada. Todos, sem exceção, têm algo para reclamar. Acho que se eu fizesse uma pesquisa formal hoje, 80% estaria infeliz com a sua situação profissional atual. E a queixa não se dá apenas por questões salariais ou de oportunidades. Conheço muita gente com bons salários, bons cargos, mas que se sentem infelizes e ecoam a frase: - Não aguento mais este mundo corporativo.

Isso tem me perturbado um pouco. Será este um mal do século XXI? Mas além deste fato e si, confesso que, para mim, algo é ainda mais perturbador. A inércia. A velha e conhecida inércia. Após ouvir queixas, individuais ou coletivas em sala de aula, sempre pergunto: E aí, o que você está fazendo ou pretende fazer para mudar este quadro? A resposta é quase sempre a mesma: - Pois é, professor, é difícil né?  Difícil? Como assim? O que significa esta resposta? O que está por trás deste comodismo generalizado?

Não estou aqui dando uma de “dono da verdade”, mas sinceramente acho que se há um mal a ser combatido é a inércia. Esta sim, é a responsável por esta insatisfação generalizada. Parece que sofremos hoje dessa epidemia. “ As coisas não estão bem, mas não faço nada para mudá-las” . E a vida segue. Chata.

Por que isso acontece? A causa é única e exclusiva: Medo de decidir e errar. Medo de mudar. Medo de buscar um novo caminho, uma nova rota de vida e de carreira. Simples assim. Nunca vi na minha vida tanta gente que sabe o que tem que fazer, mas não faz com medo de errar e se arrepender. E acabam ficando no lugar mais perigoso – em cima do muro.

Na carreira e na vida, as encruzilhadas são muitas. Muitas situações nos deixam desconfortáveis e exigem uma postura assertiva e decisões. Algumas com impactos pequenos e curtos. Outras com impactos profundos e de longo prazo. Ao chegar a uma dessas encruzilhadas, não dá para voltar. A vida não tem mão dupla. É um caminho apenas. Para frente. Erros ou acertos só podem ser contabilizados, mas nunca apagados. Relógio não anda pra trás. E quem não encara isso de frente e se recusa a descer do muro, paga o preço mais alto de todos. A conta desse “camarote” é alta. A visão de lá é boa, porque pode-se ver quem errou, quem acertou e fazer julgamentos descomprometidos. – Tá vendo? Fulano decidiu mudar e se deu mal. Ainda bem que ainda estou aqui. Pobre ilusão. A indecisão também é uma decisão. E a pior de todas.

Pense nisso durante esta semana. Liste as coisas que te incomodam profissionalmente e reflita sobre elas. Pense em alternativas de solução, calcule os riscos, pense de novo, busque conselhos de quem confia e, em algum momento, faça alguma coisa. Não fique assistindo filmes ruins pelo resto da vida. Tenha coragem de mudar de canal e buscar novos horizontes. O mundo está, embora difícil e competitivo, cheio de oportunidades. Não cabe hoje a ninguém aceitar que as coisas são como são e paciência. Pule do muro e tome decisões. Pensadas e calculadas, mas tome decisões. Se acertar, parabéns! Se errar, contabilize, levante e siga em frente. Este é o mundo dos adultos. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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