Minha visão sobre a carreira do Lula

“Lula, morto por Luiz Inácio”
por Marcelo Veras | 17 de set de 2016
Minha visão sobre a carreira do Lula

Depois de 10 anos estudando continuamente gestão de carreiras e desenvolvimento de competências, deixei de acreditar em genialidade. Após um longo trabalho de curadoria e seleção de estudos sérios sobre sucesso profissional e mais de 170 entrevistas com pessoas de sucesso, construi uma convicção forte de que a carreira está mais para uma maratona do que uma prova de 200 metros. No curto prazo tudo pode funcionar. No longo, apenas os resultados concretos, o caráter, a dedicação e o comprometimento com uma causa. Já escrevi e debati muito sobre ética e moral. Quem me conhece sabe que não gosto de palavras que tenham definição aguada e rasa. Ética é uma delas. Acredito mais na moral, nas regras e no respeito ao que for combinado ou estabelecido como boa conduta.

Estou longe de ser exemplo de perfeição. Já cometi meus erros e ainda não conheci ninguém que não tenha cometido os seus. Mas procuro pautar a minha vida e as minhas ações sempre buscando relações de causa e efeito. Penso sempre nas consequências dos meus atos, principalmente quando envolvem outras pessoas. Posso até ter o direito de fazer o que quiser com a minha vida, mas não com a dos outros.  Mentira, para mim, tem vida e vontade próprias. Se a mentira fosse uma pessoa, seria uma bem vaidosa, exibida e que adora palco. Ela sempre quer aparecer e só espera uma oportunidade para se mostrar. Pode demorar, mas um dia ela vem à tona e se vinga de quem a deixou escondida e sem palco.

De vez em quando me perguntam qual foi, na minha opinião, a pessoa mais inteligente do mundo. Não hesito em dizer que foi Albert Einstein. Na minha visão, ninguém ganha dele.  A teoria da relatividade é uma das mais inteligentes já criada. Não existe quente ou frio, rápido ou devagar, alto ou baixo. Tudo depende de onde se coloca a régua. Tudo é relativo.

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, depois de três tentativas frustradas e após mudar radicalmente a sua postura, apresentação pessoal, forma de discursar e de apresentar suas posições políticas, confesso que senti um misto de medo, curiosidade e esperança. No dia 27 de outubro de 2002 ele ganhava o segundo turno com mais de 60% dos votos. Na mesma noite, antes de se dirigir para um palco montado na avenida paulista, ele foi filmado saindo de um hotel próximo e uma cena me chamou a atenção. Ele abraçou um funcionário do hotel longamente em um corredor. Naquele momento confesso que o meu medo diminuiu e senti um pouco de esperança. O país estava apreensivo e o dólar bateu R$ 4,00 (estou falando de 14 anos atrás). Mas vamos lá, vamos ver o que um governo com base popular consegue fazer. Aliás, uma das falhas do capitalismo é sempre foi a desigualdade social. E como essa era a bandeira, creio que ninguém torcia contra um melhor equilíbrio da distribuição da riqueza gerada.

Pois bem, não vou aqui fazer um relato do que se passou daí pra frente. Só quis lembrar que o Sr Lula, quando assumiu o cargo mais importante que uma república pode ter, ganhou a oportunidade de fazer tudo o que sempre pregou e lutar contra tudo o que sempre condenou. E a corrupção sempre foi uma das suas principais bandeiras. Inúmeros vídeos disponíveis na internet mostram uma indignação fantástica dele contra a corrupção.

Pesquisas recentes engrossam a fila de argumentos para a tese da influência externa. Malcolm Gladwell, de quem sou fã e li todos os livros, dedica um capítulo inteiro em um dos seus textos ao tema, provando quase matematicamente que somos produtos do meio. Em um experimento fantástico envolvendo a história do bom samaritano, mostra como as variáveis do meio no qual estamos inseridos podem mudar radicalmente o nosso comportamento. Recentemente tive acesso a mais uma pesquisa sobre o tema. Esta me deixou extasiado, mas não surpreso. Esta mapeou o perfil ético das pessoas e concluiu que: 10% das pessoas são não aderentes a padrões éticos, ou seja, são do mal, fazem coisas erradas por convicção e ponto. 20% são aderentes aos padrões éticos, ou seja, têm um caráter bom, são incorrompíveis e do bem. Por fim, a grande maioria, 70%, são produto do meio. Em outras palavras. Dançam de acordo com a música. Se o ambiente permitir, cruzam a linha da moral e da ética e fazem coisa errada. Se estiverem em um ambiente correto e com pessoas corretas, fariam o mesmo.

Que Lula faz parte dos 70% que são produtos do meio, não restam dúvidas. E que isso representa uma decepção enorme para milhões de pessoas (inclusive eu), também não restam dúvidas. E olha, não estou aqui manifestando opinião política em favor desse ou daquele. A classe política brasileira é, na média, um lixo. Mas a nossa régua para Lula sempre foi mais alta. Não que os outros tenham algum direito de se beneficiar de corrupção, mas ele? Ele não.

Agora, vamos combinar uma coisa: O Brasil tem leis, processos legais e instituições sólidas. O que este senhor tem que fazer agora é simplesmente se defender, provar que não foi beneficiado por corrupção e processar quem tiver que processar caso seja absolvido. O seu legado, será que existirá algum, depende disso.

Mas quero aqui dizer que o seu último discurso público, recheado de síndrome de perseguição, foi muito, muito infeliz. Primeiro porque não responde de maneira clara e objetiva, porque foi beneficiado com evidências claras, de “favores” de empresas cujos donos estão todos na cadeia. E depois, por chamar os funcionários públicos quase de vagabundos.

Meu pai foi funcionário público a vida toda. Nunca roubou R$1,00 e já recebeu ameaça de morte por denunciar corrupção. Meus dois irmãos são funcionários públicos e fazem o seu trabalho com a maior dignidade. Todos os três ralaram muito para conseguirem esses cargos e tudo o que conseguiram na vida é fruto do seu trabalho e esforço pessoal, e não de favores de gente que está na cadeia por fazerem parte de uma rede de corrupção que pilhou o país por mais de 12 anos.

Por fim, Lula, eu realmente acho uma pena que o Luiz Inácio tenha lhe matado. Isso mesmo, Lula foi morto por Luiz Inácio. E já que isso ocorreu e os seus bons feitos (não os nego) foram apagados pela podridão do que agora vem à tona (lembra que mentira tem vontade própria?), o melhor seria o Lula se calar de vez e o Luiz Inácio se defender. Isso é mais digno do que ficar ofendendo pessoas do bem como você fez com os funcionários públicos.

por Marcelo Veras
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